Sunday, January 25, 2009

Sibiriri e o Capetal

Sibiriri estava indo ao banco solicitar um talão de cheque por conta de uma eventualidade. Precisava pagar estudos mais aprofundados e o pagamento só podia ser realizado através de cheque ou cartão de crédito. Chegando à agência foi direto conversar com uma atendente metida a gerente. Mas pelo naipe da figura, tu percebia logo que era uma funcionária como outra qualquer, assalariada e sem muito interesse em crescer profissionalmente, principalmente se, com um olhar mais apurado, conseguisse roubar-lhe um sorriso que era mal dado e cheio de atropelos. Mas, não estou aqui para ficar analisando sorriso de funcionária de banco, pelo amor do que é mais sagrado. Então, Sibiriri mal fez o pedido do talão e a engraçada ofereceu-lhe um cartão que possuía um crédito sete vezes superior ao seu salário. Daria para pagar o curso, cancelar o talão, comprar aliança, financiar a geladeira, o fogão e conforme ia pensando nessas novas e importantes aquisições, os olhos iam fechando e com o cartão ele entrava no supermercado pegava granola, pão árabe, queijo prata, o chedar, o minas, pedia 500g de passas, pegava suco de caixinha, uns quatro para satisfazer sua necessidade, voltava na prateleira onde pegou a granola e passava a mão na proteína de soja, logo a frente tinha Yogurt, olhava para o sorvete e ficava puto por que os pais estão diabéticos e não podem encontrar o danado na geladeira senão arrasam com a guloseima. Continuou no caminho escolhendo verduras, frutas , não todas por que o mamão papya nunca está de bom humor lá no Brejinho. Não esqueceu de nada, passou o cartão no caixa e pediu ao guri para levar as mercadorias em sua casa. Entrou no Onça Calçados ao lado da Bica da Mulata, experimentou um Adidas azul, um All Star branco de couro e um tênis desses de cano longo que os jogadores de basquete estão acostumados a usar, e o cartão mais uma vez estava lá para ajudar. Do outro lado da rua entrou num brechó e foi escolhendo a moda da década de 70 que iria compor seu guardaroupa. Blusas coloridas, calças quadriculadas, tap para esconder os dreads nos dias de chuva e por aí vai. Por último foi almoçar e na hora de passar o cartão, aquele crédito superior ao seu salário sete vezes , já havia expirado. E pior, nem havia conseguido pagar os estudos, que era o seu objetivo principal. Ficou se perguntando como faria para explicar a dívida no mês seguinte para a sua amada que se encontrava em casa de vestido quadriculado na altura do joelho, avental, cabelo esticado, bob para dar um volume extra e lenço amarrado na cabeça para disfarçar o cabelo que poderia ser melhor trabalhado. Sibiriri ao perceber aquela cena fora dos padrões decidiu abrir os olhos cerrados durante uns 3 minutos enquanto a moça, já nervosa pela ausência do cliente que queria apenas um talão de cheque, a olhou no fundo dos olhos e com uma tirada magistral, informou que o cartão podia ficar para uma outra oportunidade. Na mesma hora ela deixou os chifres aparecerem sob as mechas loiríssimas e disse a Sibiri que ele voltaria ali em breve, pois ela estava a serviço do capetal e que ninguém na atualidade consegue se manter longe de um crediário, de um talão de cheques e de gastar mais que o necessário.

Brejinho. 25 de janeiro, 2009.
leo bento