tIM mAIA - novinho |
Não tenho o hábito de planejar
passo-a-passo o que pretendo fazer quando saio para me divertir ou simplesmente
vagar para fazer novas descobertas. Ao saber pelo noticiário que seria lançado
o filme do Tim Maia, pensei logo que seria alguma coisa bizarra, tipo um
sujeito estranho imitando-o sem brilho e contando estórias que muitos julgam
saber. E além disso, escondendo coisas de fato relevantes sobre aquele que não
recebeu o título de majestade, mas que se comportou como tal. Como o rei dos
reis da música popular brasileira (podem não concordar, mas ao menos fica a
brecha para o debate no botequim) e que iriam desmascarar o monarca fajuto que
está até hoje surfando na personagem que inventaram para ele. Mas, isso é outra
estória, outro texto. Quando vi os atores que encenavam, me encantei. Falei comigo
mesmo, lá no fundo: - Esse trabalho deve ser sério. Aliás, esse trabalho é
sério. Não me restou aumentar a vontade de ir ao cinema. Mas desde que vi o noticiário,
o tempo foi passando e já me habituava com a ideia de mais um filme que saia de
cartas e eu não colava pra assistir. Pois já gostei mais de cinema, mas de uns
tempos para cá, tenho desistido de ficar em frente à telona por achar que jogo
dinheiro fora, não pela qualidade dos filmes, mas pela minha total incapacidade
de me manter de olhos abertos durante a seção. Acho que isso é exagero, mas me
acostumei a não frequentar mais as salas cinematográficas. Quando criança, era
emocionante ir ao cinema de Madureira com minha mãe durante as férias. Via
todos os filmes em cartaz. Depois, o senso crítico foi se instalando, se consolidando
e fiquei meio chato com qualquer filme. Mas o do Tim chamou minha atenção. Não
ia acontecer como foi, quando entrei no cinema para dormir. Descansar para
continuar na folia no cinema do Passo Imperial. Nem olhei o que estava em
cartaz, paguei, sentei na poltrona e fechei os olhos. Era carnaval, eu estava
virado e queria continuar na festa da carne que já se iniciava. Era o lugar
mais barato para eu tirar uma soneca. Ledo engano o meu. Quando começou o filme (Edukator),
logo percebi o tom do enredo e que descompassou o meu samba. Não tive coragem
de manter os olhos cerrados, assisti ao longa como se não houvesse amanhã, não
retirei o cansaço do corpo e voltei para Belford Roxo sem dar continuidade
naquele carnaval que se iniciava. Acontece! Quase que isso vira uma maldição na
minha tensa relação com o cinema que se inicia desde então. Deixa eu contar
outra estória, daqui há dois meses, faço parabéns de dois anos na selva de
pedra e não me recordo de ter ido ao cinema uma única vez. Mas, vinha bem disposto
a reverter essa situação. Num dia dessa semana, depois de ver algumas pessoas
tecendo comentários interessantes sobre o filme, pessoas que respeito e admiro,
fui colocar meu plano em prática. Cheguei mais cedo na dermatologista que cuida
da minha foto-sensibilidade, mas a insensível da atendente que inflexivelmente,
me fez aguardar quase duas horas, por que a doutora (que só tem graduação) não
atende se não for na hora, e na hora que foi marcada a consulta. Tá legal, até aceitei
o argumento. Mas, ao sair do consultório, quase que voei no pescoço dela, mas ia perder a seção, então voei em direção ao cinema mesmo. Para
minha decepção! O filme do Tim estava em cartaz, mas só era exibido às 13
horas. Isso já era final do dia. Fiquei pensando que o cinema estava
priorizando outros filmes em detrimento desse, que talvez esse não tivesse
tendo o público esperado e lembrei de uma matéria que li sobre filmes de uns
globais famosos, alguns até talentosos como atrizes e atores, mas que não
atingiram o público que a mídia considera razoável. Voltei para casa e no dia
seguinte ao sair do trabalho, decidi que ia voltar a escrever, voltar a escrever
no blog. Para isso precisava ler poesia, abastecer a poésis. O plano já estava
armado mais uma vez. Ia passar na livraria. Comprava um livro. Assistia o Tim.
Jantava. Ia pra casa. Lia umas duas ou três poesias e num passe de mágica o
texto sairia como numa seção mediúnica. Como meus planos não são seguidos da
forma como são concebidos, fui ao cinema primeiro. Na verdade era outro cinema,
maior, com várias salas de exibição e me deparo com algo mais agradável em
relação ao dia anterior. Havia dois horários para assistir ao Tim, um já havia
passado, horário de almoço de novo e o outro era às 22 horas, olhei no relógio
e ainda eram 18. Pensei: - Num vou assistir. Tá de sacanagem! Mas, aí fui à
livraria, peguei uns livros, fiquei lendo, deixei que me escolhessem, jantei,
tomei café e a hora avançava pacientemente. Já estava super-feliz, ia ver o
Tim. Faltando uns quinze minutos lembrei do caráter ainda provinciano de
algumas partes da cidade de São Paulo, pois ao término da seção não teria táxi,
não teria ônibus e, com a tosse que estou, não teria pernas suficientes para
chegar à casa. Montei, foi no porco e sai de fininho. E o Tim? Hum, o Tim,
ficou pra amanhã. Para depois de amanhã, quem sabe prum dia desses.
leo bento
Limoeiro. 19 de dezembro, 2014